European Journal of Pediatrics
https://doi.org/10.1007/s00431-018-3128-8
Neriya Levran \ Michael Wilschanski \ Jessica Livovsky \ Edna Shachar \ Moti Moskovitz \ Lama Assaf-Jabrin
Hebrew University, Hadassah School of Dental Medicine, Jerusalem, Israel
2 March 2018
Tradução: Google | Adaptação: Raquel Benati
RESUMO:
O início de uma dieta sem glúten e duradoura em crianças com doença celíaca (DC) influencia a vida da criança de várias maneiras. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da dieta sem glúten sobre os hábitos alimentares e comportamentos de estilo de vida da criança e de sua família. Para estudar isso, pedimos às crianças e seus pais que completassem o questionário "Family Eating and Activity Habits" no momento do diagnóstico de DC e depois 6 meses após o início da dieta sem glúten, avaliando os sintomas relacionados adesão à dieta. Foram analisados questionários de 40 crianças com DC e suas famílias. Havia 21 mulheres variando na faixa etária de 4 a 15,7 anos (idade mediana de 7,4 anos ± 2,8 anos). O grupo controle foi composto por 15 crianças saudáveis. Depois de início da dieta sem glúten, a família comeu mais "junk food", incluindo lanches e doces, com a mudança significativa relatada por crianças e pais. Já no grupo controle, todos os membros da família diminuiram a quantidade de lanches.
Pais e filhos relataram um aumento significativo nos estilo alimentar obesogênico, como comer direto na panela e comer enquanto faziam outras atividades.
CONCLUSÕES: Nosso estudo mostra que o início da dieta sem glúten em crianças com DC leva a mudanças nos hábitos alimentares e no tipo de alimentos básicos, o que pode levar a um ambiente mais obesogênico. Cuidadores, pediatras, gastroenterologistas e nutricionistas devem estar cientes dessas implicações e educar as famílias para um estilo de vida e dieta mais saudável para além da própria dieta sem glúten.
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Comentários sobre o estudo
Raquel Benati*
O estudo publicado em março de 2018, de uma pesquisa feita em Jerusalém, Israel. Lá, como aqui no Brasil, o Governo Federal está preocupado com a epidemia de obesidade e vem fazendo campanhas para incentivar a população a ter hábitos alimentares mais saudáveis.
Se alguém ainda não conhece, recomendo baixar o "GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA". Clique aqui para baixar.
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Geralmente, quando crianças recebem o diagnóstico de Doença Celíaca, estão com a saúde muito debilitada, com baixo peso, às vezes até baixa estatura. À medida que vão melhorando após o diagnóstico e adesão à uma dieta sem glúten rigorosa, esse quadro muda e voltam a ganhar peso e crescer no mesmo ritmo das outras crianças.
A adesão a uma dieta sem glúten trás muitas mudanças na rotina familiar. Desde a alteração no cardápio, nas receitas, na forma de fazer compras, nos cuidados com os riscos de contaminação cruzada por glúten até os hábitos de lazer, viagens, rotinas escolares, tudo muda.
O estudo de Israel mostra que, mesmo com orientação nutricional após o diagnóstico, o ambiente familiar da criança celíaca muda e pode se tornar obesogênico.
- O que é um ambiente obesogênico? É um ambiente que produz e suporta o sobrepeso e a obesidade. Os contribuidores para este ambiente incluem o consumo de grandes porções de comida particularmente com alta concentração de açúcar e gordura, combinado com uma vida sedentária. O próprio ambiente promove um cosumo sempre extra de comida e sempre com comidas pobres em nutrientes como as comidas processadas, cheio de preservativos e sempre convenientes isto é de rápido preparo e com custo barato. Estes alimentos hiper calóricos e baratos promovem repetidos ciclos de se alimentar uma vez que sua sustentação é de curto prazo.*http://aposnutrition.com/
O estudo diz que "apesar de seus benefícios óbvios, seguir uma rigorosa dieta sem glúten por toda a vida continua a ser um das questões mais desafiadoras na população pediátrica. As restrições da dieta sem glúten podem afetar o bem-estar psicossocial e estilos de vida das crianças e suas famílias."
Muitas famílias tem preocupações que suas crianças celíacas "passem vontade", que fiquem tristes ou deprimidas por causa da restrição alimentar, que se sintam discriminadas nos ambientes onde não há comida sem glúten segura, que possam sofrer bullying por causa do que levam para lanchar na escola, que passem fome. Então a "função" na cozinha dessas famílias aumenta 300%, 400%. Mesmo que as famílias não comprem produtos sem glúten processados ou ultraprocessados, passa a ser muito importante saber fazer substituições de pães, bolos, tortas, pizzas, massas, salgadinhos, doces, , sorvetes, churros, donuts e até mesmo coisas que não faziam parte dos hábitos alimentares, agora ganham espaço na rotina alimentar doméstica. Grande parte dessas receitas acabam tendo um desequilíbrio de nutrientes muito grande, com presença de muito carboidrato refinado e pouca fibra, muito óleo, açúcar, aditivos químicos.
Muitas crianças celíacas que já tem idade suficiente para comprar pequenos lanches (seja na escola, seja no seu próprio bairro) só tem como opções sem glúten seguras fora de casa produtos ultraprocessados, como refrigerantes e balas ou salgadinhos tipo "porcaritos". O sonho de várias famílias é que seus filhos possam um dia fazer um lanche sem glúten seguro no "Mc Donalds" ou no "Burguer King" ou sair para comer uma pizza com amigos, pois isso traria a eles um pouco do sentimento de "vida social normal".
O estudo de Israel mostrou que "no geral, a adoção de uma dieta sem glúten leva pais e filhos a compensarem a perda da dieta regular com outros alimentos insalubres. Nós postulamos que após o diagnóstico de DC, a comida se torna um grande problema em casa, tornando os pais mais ocupados com a preparação das refeições e lanches ao longo do dia. Isso pode levar as crianças a comerem mais, em intervalos de refeições menos regulares. O estresse pode ser outro gatilho para a mudança no estilo de comer. Algumas pessoas podem lidar com o estresse comendo e se alimentando emocionalmente (comer como resultado de estados de humor negativos como preocupação). Cerca de metade dos pais de crianças celíacas experimentam um nível crítico de estresse parental que é significativamente diferente dos pais de crianças sem restrição alimentar".
E aqui no Brasil? Estamos conseguindo focar no que é realmente importante oferecer às nossas crianças celíacas? Será que é mesmo necessário que comam tantos alimentos que envolvam receitas, farinhas, açúcares, cremes, recheios? Será que essa necessidade de "compensar" a restrição, aumentando a oferta de biscoitos, bolinhos, doces em detrimento de comida "in natura" como frutas, legumes, verduras será benéfico para a saúde delas como um todo?
Deixo aqui o material elaborado pela Dra Juliana Crucinsky, Nutricionista, Consultora Técnica da FENACELBRA ( Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil): clique aqui para baixar
* Raquel Benati - professora de Arte | Membra fundadora da ACELBRA-RJ | autora do site www.riosemgluten.com.br
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