terça-feira, 9 de novembro de 2021

DOENÇA CELÍACA & COVID-19 - dados brasileiros



Questionário DOENÇA CELÍACA & COVID-19 – Riosemgluten

Divulgado nas Redes Sociais do Riosemgluten (Instagram e Facebook)

Coleta de informações nos dias 06, 07 e 08 de novembro de 2021

"Questionário para levantamento de dados sobre a COVID-19 na comunidade Celíaca brasileira. Os resultados serão divulgados no site e redes sociais do Riosemgluten. 

Público-alvo desse questionário: EXCLUSIVAMENTE pessoas maiores de 18 anos, com diagnóstico de DOENÇA CELÍACA confirmado por um gastroenterologista ou dermatologista (dermatite herpetiforme) e que durante os anos de 2020 e 2021 estiveram morando no Brasil. O questionário é anônimo."


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Por Raquel Benati

Em junho de 2021 foi publicado um artigo científico sobre Doença Celíaca e COVID-19 com dados iniciais do estudo "SECURE-CELIAC"  (https://covidceliac.org/), que é uma base de dados internacional (pediátrica e de adultos), para monitorar e relatar resultados de COVID-19 que ocorrem em pacientes com doença celíaca.

O artigo traz os seguintes resultados:

"Entre 31 de março de 2020 e 23 de fevereiro de 2021, 123 casos confirmados de COVID-19 foram relatados por 60 médicos no registro, incluindo pacientes de 21 países em 5 continentes.

A idade média era de 38 anos. A maioria dos pacientes era do sexo feminino (76,4%), brancos (90,2%), diagnosticados por biópsia duodenal (86,2%) e em dieta estritamente sem glúten ou com rara exposição inadvertida ao glúten (82,1%). 

Um total de 39,0% tinha pelo menos 1 comorbidade, enquanto 8,9% estavam em uso de pelo menos 1 medicamento imunossupressor no momento do diagnóstico de COVID-19. 

Um total de 36,6% dos casos de COVID-19 relatados apresentaram novos sintomas gastrointestinais como diarreia, náusea, vômito e dor abdominal quando tiveram CoVID-19. 

Um total de 13,9% dos casos atendeu ao desfecho primário de hospitalização ou óbito. 

Um total de 11,4% (14 pacientes) foi hospitalizado, 1 paciente necessitou de cuidados intensivos e 2,4% (3 pacientes) morreram de complicações relacionadas à COVID-19. 

Os pacientes que atenderam ao desfecho primário tenderam a ser mais velhos, ser hispânicos / latinos  e ter um histórico de doença cardiovascular ou acidente vascular cerebral. 

Neste registro internacional relatado por profissionais de saúde de pacientes Celíacos que contraíram COVID-19, observamos uma taxa de hospitalização de 12% e uma taxa de letalidade de 2,5%. 

As taxas de hospitalização e letalidade por COVID-19 na população em geral são estimadas em 20% e 1%–11%, respectivamente, sugerindo que os pacientes com Doença Celíaca não apresentam risco aumentado de hospitalização ou morte." (1)


Embora o Brasil esteja na lista dos países participantes desse estudo, não tivemos até o momento pesquisa nacional sobre DOENÇA CELÍACA e COVID-19 com celíacos brasileiros. 

Para responder dúvidas específicas e observar se alguns desses dados internacionas poderiam ser confirmados também aqui no Brasil, elaborei um questionário e usei a ferramenta "Google Forms" para divulgar nas redes sociais do Riosemgluten. Apresento aqui os dados recolhidos desse questionário.

Pré-requisitos para responder ao questionário:

- Ter mais de 18 anos,

- Ter diagnóstico de Doença Celíaca / Dermatite Herpetiforme confirmado por um médico,

- Estar morando no Brasil no período 2020/2021.


Características dos participantes: 

  • 1.072 celíacos responderam (82,3% diagnosticados com biópsia de duodeno)
  • 1.022 participantes são do sexo feminino (95,3%)
  • Idade: 29,4% entre 18 a 29 anos

          31,8% entre 30 a 39 anos

          23,4% entre 40 a 49 anos

          11,2% entre 50 a 59 anos

           4,2% acima de 60 anos

  • 63,9% dos participantes já tiveram COVID-19 (387 celíacos)

Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Sua idade atual. Número de respostas: 1.072 respostas.


Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Já teve COVID-19?. Número de respostas: 1.072 respostas.



Sobre os participantes que TIVERAM COVID-19 (387 celíacos):

  • 46,5% tiveram COVID-19 em 2020 
  • 53,5% tiveram COVID-19 EM 2021


Sobre a gravidade do quadro da COVID-19

  • 55,8% quadro leve
  • 40,6% quadro moderado
  • 3,6% quadro grave



6,2% (24 celíacos) necessitaram de internação. Aqui já vemos uma diferença dos dados do Secure-Celiac, que mostrou uma taxa de hospitalização de 12%.

Dos 387 celíacos que tiveram COVID-19, 23% (89) têm comorbidades que estavam listadas como "grupo de risco".

Quando perguntados se outros moradores da mesma residência também tiveram COVID-19, 69,8% afirmaram que sim.

Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Quando você teve COVID-19 outras pessoas que moravam na mesma residência também tiveram COVID-19 nessa época (COVID-19 sintomática ou com resultado positivos nos testes)?. Número de respostas: 387 respostas.

Sobre os principais sintomas:

  • 74,4% tiveram DOR DE CABEÇA
  • 70,8% tiveram DOR NO CORPO
  • 69,5% tiveram FADIGA
  • 50,9% tiveram SINTOMAS RESPIRATÓRIOS
  • 39,3% tiveram SINTOMAS GÁSTRICOS
  • 4,9% foram assintomáticos (apenas testes positivos)

Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Você teve:. Número de respostas: 387 respostas.

Aqui era o meu principal ponto de dúvida: "Celíacos seriam mais propensos a ter COVID LONGA"?



Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP nos traz os seguintes dados sobre a COVID LONGA ou Síndrome Pós-COVID:

"Resultados preliminares de uma pesquisa com pacientes recuperados de covid-19, acompanhados pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, revelam que 64% têm algum sintoma persistente seis meses depois do início dos sintomas. 
Entre os pacientes atendidos pelo ambulatório pós-covid (MINC) do Hospital das Clínicas da FMRP, os principais sintomas persistentes são fadiga, falta de ar, dor de cabeça, perda de força muscular, dificuldade para enxergar ou incômodo nos olhos. Os dados são coletados pelo projeto Recovida, que acompanha, desde maio de 2020, sobreviventes da covid-19 para observar as repercussões da doença. 
A pesquisa é da fisioterapeuta Lívia Pimenta Bonifácio, que desenvolveu o projeto em seu pós-doutorado na FMRP. “O objetivo é acompanhar pacientes sobreviventes da covid-19 na sua apresentação leve e na forma grave da doença e observar sua sobrevida, bem como a ocorrência de possíveis repercussões físicas, psicológicas ou sociais relacionadas à infecção ou ao seu tratamento.” (2)

Na nossa pesquisa 30% dos Celíacos tiveram COVID-19 apresentaram sintomas persistentes após 3 meses do ínicio da infecção. 

Por tudo que vem sendo divulgado sobre a Síndrome Pós-COVID nos sites de Saúde, podemos dizer que Celíacos que tiveram esses sintomas persistentes devem fazer acompanhamento com seus médicos e nutricionistas, para prevenção de problemas futuros.


Sobre os participantes que NÃO TIVERAM COVID-19

Dos 685 celíacos que NÃO tiveram COVID-19, 22,6% têm comorbidades que estavam listadas como "grupo de risco". 

Nesse grupo 21% dos participantes conviveu na mesma residência com alguém com COVID-19.


COMPARANDO AS RESPOSTAS DOS DOIS GRUPOS

Durante toda a pandemia sofremos com a divulgação de "fake news" e informações desencontradas vindas do Ministério da Saúde e de outros setores do Poder Público, o que deixou a população insegura sobre formas de proteção e prevenção dessa doença que vem ceifando tantas vidas no Brasil e no mundo.

Sobre as formas de proteção, a grande maioria dos participantes da pesquisa adotou as medidas divulgadas pelo Ministério da Saúde: 

Grupo de Celíacos que teve COVID-19:

  • uso de máscaras (96,4%), 
  • limpeza das mãos com uso de álcool em gel (95,1%), 
  • distanciamento social (85,5%), 
  • com um grupo significativo fazendo isolamento social (48,1%),
  • 2,1% não fez distanciamento social e só usou máscaras porque o uso foi obrigatório.

Grupo de Celíacos que não teve COVID-19

  • uso de máscaras (96,2%), 
  • limpeza das mãos com uso de álcool em gel (95,3%), 
  • distanciamento social (89,6%), 
  • com um grupo significativo fazendo isolamento social (56,8%),
  • 1,6% não fez distanciamento social e só usou máscaras porque o uso foi obrigatório. 

Sobre as formas de prevenção para evitar um quadro grave da doença, tivemos 2 ações distintas: uso de medicamentos e/ou uso de suplementos para fortalecimento do sistema imunológico e a atenção com a atividade física e a nossa dieta sem glúten, também como forma de fortalecer o organismo e não estressar nosso sistema de defesa.


Formas de prevenção:

Grupo de Celíacos que teve COVID-19

Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Por conta própria fez uso de medicações na tentativa de evitar uma infecção grave pela COVID-19 ?. Número de respostas: 387 respostas.