sexta-feira, 19 de maio de 2017

Excluir glúten da dieta não é ruim: o problema é estar comendo mal


Lucía Martínez
Espanha

Tradução / Adaptação: Raquel Benati

A partir de um estudo recente, a dieta sem glúten foi rotulada de perigosa para os não-celíacos, mas nem o estudo diz isso e  comer sem glúten não é prejudicial se a dieta é equilibrada.



Parece que não passa uma semana sem encontramos em algum momento com uma notícia controversa relacionadas com a nutrição e alimentação. Os últimos dias tem sido especialmente prolíficos, por um lado vimos a introdução de taxas sobre bebidas açucaradas na Catalunha e do outro a estrela nutri-news tem sido associada a um estudo recentemente publicado no British Medical Journal sobre consumo de glúten (1).

Dieta sem  glúten e coração: um risco fictício


Como de costume, as manchetes da imprensa sobre o estudo foram tendenciosas e sensacionalistas, com declarações que estão longe de ser fidedignas com os resultados do estudo.

"La Vanguardia", sem ir mais longe, intitulava "Comer sem glúten pode prejudicar a saúde cardiovascular dos não-celíacos", "El País" nos deixava a manchete "Comer glúten só é ruim para os celíacos" e no "Antena 3" optaram por "Um estudo adverte que quem parar de comer glúten sem ser celíaco está mais propenso a ter diabetes tipo 2 ". Tudo isso enquanto os nutricionistas, atônitos, tentavam semear um pouco de bom senso nas redes sociais.

Por que não ler o que ele realmente diz o estudo?


Uma das conclusões do trabalho é: 
"A ingestão de glúten a longo prazo foi não associada com risco aumentado de doença cardiovascular" - qualquer pessoa com uma modesta compreensão de leitura entende que isso não significa que a remoção do glúten da dieta piora a saúde cardiovascular, simplesmente diz que consumir glúten não piora a saúde cardiovascular, É muito diferente!

O que mais diz o estudo?
"Eliminar o glúten da dieta pode resultar em redução da ingestão de grãos integrais benéficos que protegem do risco cardiovascular." A chave para essa frase é "pode", que é condicional, não imperativo. Uma dieta sem glúten glúten baseada em alimentos processados rotulados como "Não contém glúten" provavelmente será uma dieta ruim, mas não por falta do glúten, e sim pelo excesso de  produtos pouco recomendáveis (aditivos químicos, conservantes, acidulantes, corantes, espessantes, etc.).

Cereais sem glúten, ainda mais saudáveis!


Uma dieta sem glúten permite a inclusão de cereais e pseudocereais como arroz, milho,  trigo mourisco, quinoa. Os benefícios desses alimentos saudáveis não são inferiores àqueles que contém cereais com glúten, como trigo, centeio ou cevada. Na verdade, em muitos casos, os seus benefícios são maiores.

Vamos enfatizar que o importante é que a dieta seja rica em vegetais e frutas (todos sem glúten), não cereais... e que legumes e frutas têm mais provas sobre a prevenção de doenças não transmissíveis, doenças cardiovasculares e inclusive diabetes.

Uma dieta sem glúten nem sempre é saudável


Sim, se nós consumiamos pão integral e trocamos por bolinhos sem glúten, que são "confeitaria", nossa dieta certamente vai piorar. Mas não por ter retirado o glúten, e sim por ter trocado um alimento saudável para outro com pouco valor nutricional, tendo ou não glúten. Felizmente, temos alternativas muito melhores.

A última conclusão se lê que "dietas sem glúten para pessoas não-celíacas não deve ser recomendada" e, na verdade, as pessoas não-celíacs devemos recomendar uma dieta saudável, não especificamente uma dieta sem glúten. 

Mas isso não significa que uma dieta sem glúten seja perigosa ou aumente o risco de doença por si só.  Assumir isso é um erro terrível. Uma dieta sem glúten pode ser boa ou ruim, dependendo dos alimentos que você escolhe para se compo-la.

Eliminar o Glúten pode beneficiar pessoas não-celíacas


E, finalmente, observar que não é verdade que SÓ as pessoas diagnosticadas com a doença celíaca se beneficiam de uma dieta sem glúten. Sabemos agora que existe a Sensibilidade ao glúten não-celíaca e também que em certas doenças inflamatórias ou autoimunes , o paciente pode se beneficiar de uma dieta sem glúten. Por isso que essa última afirmação é atualmente, reducionista ao extremo.



1- Lebwohl Benjamin, Cao Yin, Zong Geng, Frank B Hu, Peter HR Green, Neugut Alfred I et al. o consumo a longo prazo de glúten em adultos sem doença celíaca e o risco de doença cardíaca coronária: estudo prospectivo BMJ 2017; 357: j1892

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